TDAH e QUALIDADE DE VIDA

A infância e, principalmente, a adolescência são fases difíceis do desenvolvimento de um indivíduo, quando fatores de toda a ordem (orgânicos, psicológicos e sociológicos) interferem de forma ativa e conflitiva no comportamento da criança/adolescente e aumentam, ainda mais, sua insegurança. Violam as regras da casa, negligenciam as tarefas domésticas, opõem-se ao para casa e geralmente perturbam a paz. Cabe aqui um esclarecimento rápido aos pais e aos educadores em geral, que constituem os personagens envolvidos diretamente na tarefa de formar indivíduos, tanto na sua dimensão individual como na escolar e social.

O QUE É TDAH?

O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, ou TDAH, é um transtorno do comportamento, mais especificamente um transtorno do desenvolvimento do autocontrole, com três características básicas: a desatenção, a agitação (ou hiperatividade) e a impulsividade.

OCORRÊNCIA: 

Sua frequência maior, no Brasil, ocorre em 5% da população até os 12 anos e, muitas vezes, permanece até a adolescência e vida adulta. A proporção é de a cada menina com TDAH existem dois meninos com este tipo de transtorno. 

CARACTERÍSTICAS:

Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos  Mentais – DSM-5, o TDAH caracteriza-se por dois grupos de sintomas: 1 – desatenção e  2 – hiperatividade e impulsividade.

Os seguintes sintomas fazem parte do grupo de desatenção:

  1. Frequentemente não presta atenção a detalhes ou cometer erros por descuido;
  2. Frequentemente tem dificuldade para manter a atenção em tarefas e/ou atividades lúdicas;
  3. Frequentemente parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente; 
  4. Frequentemente não  segue instruções até o fim e/ou não termina o que começa;
  5. Frequentemente  tem dificuldade para organizar tarefas e atividades;
  6. Frequentemente evita, não gosta ou reluta para se envolver em atividades que exijam um esforço mental continuado;
  7. Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades;
  8. Frequentemente  se distrai com estímulos externos;
  9. Frequentemente  é esquecido em relação a atividades cotidianas.

Os seguintes sintomas fazem parte do grupo de hiperatividade/impulsividade:

  1. Frequentemente remexe ou batuca as mãos e/ou os pés ou se contorce na cadeira;
  2. Frequentemente se levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado; 
  3. Frequentemente corre ou sobe nas coisas em situações inapropriadas;
  4. Frequentemente é incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer  calmamente;
  5. Frequentemente é muito agitado (“com o motor ligado”);
  6. Frequentemente fala demais;
  7. Frequentemente deixa escapar uma resposta antes da pergunta ter sido concluída.
  8. Frequentemente tem dificuldade de esperar a vez;
  9. Frequentemente interrompe ou se intrometer em conversas ou jogos dos outros.

“Segundo o Dr. Russel A. Barkley, psiquiatra americano especialista em TDAH, o tempo para os portadores deste transtorno flui como se fosse em câmera lenta, razão pela qual eles ficam tão agitados.”

Como a atenção e o controle motor são muito dependentes da motivação e de atividades individualizadas, às vezes o indivíduo com TDAH consegue ficar horas na internet, quieto e concentrado.

DIAGNÓSTICO:

Algum comprometimento devido aos sintomas de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade deve estar presente com certa freqüência em pelo menos dois contextos (por exemplo, em casa e na escola),  e devem haver claras evidências de interferência  no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional próprio do nível de desenvolvimento, para se diagnosticar o TDAH. Não necessariamente tem que haver algum comprometimento neurológico.

O diagnóstico do Transtorno de déficit de Atenção e Hiperatividade é fundamentalmente clínico. Baseia-se fundamentalmente em:

  • anamnese detalhada com pais;
  • escuta da escola;
  • avaliação psicodiagnóstico;
  • exame neurológico evolutivo.

INTERVENÇÕES:

As intervenções precoces e multidisciplinares podem representar um grande passo para minimizar o impacto negativo que o TDAH traz à vida da criança, dos pais e dos seus professores. Sabe-se que tratando precocemente, podemos diminuir as conseqüências emocionais negativas e as dificuldades acadêmicas, a baixa autoestima, o risco de acidentes, o risco de abuso de drogas e a má adaptação social, diminuindo o impacto do TDAH na vida de quem é portador do transtorno.

Na maioria das vezes, é necessária a combinação de várias das seguintes intervenções: 

  • esclarecimento familiar sobre o TDAH; 
  • educação da criança/adolescente acerca do TDAH;
  • intervenção psicoterápica com a criança ou adolescente; 
  • intervenção psicopedagógica e/ou de reforço de conteúdos;
  • uso de medicação; 
  • orientação de manejo para a família;
  • orientação de manejo para os professores. 

PROGNÓSTICO:

Após um diagnóstico bem-feito e uma intervenção multidisciplinar, com o passar do tempo, os indivíduos vão desenvolvendo sua capacidade de prestar mais atenção, controlar seu comportamento e administrar suas deficiências pessoais.

A TEORIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL:

Situação            pensamento automático negativo             comportamento (reações fisiológicas, sentimento e ação).

Criada na década de 60 pelo Dr. Aaron Beck, psiquiatra americano, a Terapia Cognitiva tem um caráter didático, em que o objetivo não é unicamente ajudar o paciente com seus problemas, mas dotá-lo de um novo instrumental cognitivo e comportamental, por meio da prática regular, a fim de que ela possa perceber e responder ao real de forma funcional.

Princípio básico: a maneira como percebemos uma situação e pensamos diante dela, e não a situação em si, determina nossas emoções e comportamentos.

Objetivos: não apenas a resolução dos problemas imediatos do paciente, mas, através da reestruturação cognitiva, busca dotá-lo de um novo conjunto de técnicas e estratégias cognitivas para, a partir daí, processar e responder ao real de forma funcional, sendo o funcional definido como formas que concorrem para a realização de suas metas. 

Características: aplicabilidade eficaz: diretiva, semiestruturada; eficácia comprovada através de estudos empíricos, orientada à solução de problemas; terapeuta e paciente têm papel ativo, caráter didático; tempo curto e limitado.

É fundamental a adequação dos comportamentos de quem convive com ele – garantindo assim a manutenção dos ganhos do paciente.

Seguem-se orientações gerais e estratégias cognitivo-comportamentais para otimizar o manejo dos comportamentos inadequados destas crianças/adolescentes e o seu relacionamento com elas: 

  1. Aprenda a prestar atenção positiva na criança.
  2. Ensine  a resolução de problemas.
  3. Ajude a criança a perceber que seus pensamentos influenciam seus comportamentos.
  4. Dê comandos mais eficazes.
  5. Estabeleça um sistema de recompensa.
  6. Exalte  a  informação mais importante.
  7. Exteriorize a fonte de motivação.
  8. aumente seu uso de pequenos intervalos.
  9. Utilize incentivos mais potentes e abrangentes.
  10. Aprenda a punir a má conduta de maneira construtiva.
  11. Ensine a criança a não inter-romper suas atividades, reforçando-a por isso.
  12. Lute por consistência e coerência junto à família.
  13. Planeje-se com antecedência para evitar situações problemáticas.

O professor recebe alunos vindos de famílias em que as questões de limite não são manejadas de modo adequado, o que lhe impõe uma tarefa dupla de ensinar e educar. No sentido de obter maior qualidade no processo ensino-aprendizagem, somam-se às dicas acima:

  1. estabeleça prioridades de dificuldades;
  2. construa um calendário semanal de atividades de estudo e afixe em local bem visível;
  3. crie um caderno ou use a agenda escolar para estabelecer uma comunicação freqüente com os pais;
  4. ponha, sempre que possível, a criança com TDAH sentada próximo da carteira do professor, na primeira fila e longe das janelas (para evitar distrações); 
  5. separe o aluno dos pares que estimulam ou encorajam o comportamento inadequado;
  6. no início da aula, planeje com elas as atividades e tarefas que irão ser desenvolvidas, as desenvolva e, no final da aula, relembre o que foi feito no dia;
  7. faça um cartaz com regras breves e claras de funcionamento em sala de aula e afixe em lugar visível; 
  8. pense antes de agir; 
  9. os trabalhos em grupo devem ser feitos em grupos pequenos, para evitar a dispersão; 
  10. esquematize o conteúdo das aulas;
  11. sempre que possível aumente a motivação para aprendizagem, transformando as tarefas em jogos;
  12. dê preferência, sempre que possível, a estratégias de ensino participativo; 
  13. divida as tarefas grandes em várias tarefas pequenas, dando os conteúdos passo a passo;
  14. abuse dos recursos de ensino; além da exposição oral, use figuras, recursos audiovisuais, texturas e cores;
  15. estimule a criança a ler em voz alta. Isso ajuda na manutenção da atenção;
  16. avalie mais pela qualidade do que pela quantidade; 
  17. use sempre o reforço positivo, quando o indivíduo apresentar um comportamento desejado; 
  18. em últimos casos, quando a estratégia punitiva se fizer necessária, explique claramente para a criança a razão da advertência ou exclusão. É fundamental o estabelecimento da conexão causa efeito.

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